sexta-feira, agosto 18, 2006

A lenda...

Narrado no livro O Asno de Ouro, de Apuleio, o mito de Psiquê (alma), bela mortal por quem Eros, o deus do amor se apaixonou...


Psiquê era tão bela que despertou a fúria de Afrodite, deusa da beleza e do amor, mãe de Eros - pois os homens deixavam de frequentar seus templos para adorar uma simples mortal.

A deusa mandou seu filho atingir Psiquê com suas flechas, fazendo-a apaixonar-se pelo ser mais monstruoso existente. Ao contrário do esperado, Eros apaixona-se por Psique, acidentalmente espetado por uma de suas próprias setas.
Com o próprio deus do Amor apaixonado por ela, as suas setas não foram lançadas para ninguém. O tempo passava, Psiquê não gostara de ninguém, e nenhum de seus admiradores se tornara seu pretendente.


O rei e pai de Psiquê, cujo nome é desconhecido, preocupado com o facto de já ter casado duas de suas filhas, que nem de longe eram belas como Psiquê, quis saber a razão pela qual esta não conseguia encontrar um noivo. Consulta então o Oráculo de Delfos, que prevê, induzido por Eros, ser o destino de sua filha casar com um ente monstruoso.

Após muito pranto, mas sem ousar contrariar a vontade de Apolo, a jovem Psiquê foi levada ao alto de um rochedo e deixada à própria sorte, até adormecer e ser conduzida pelo vento Zéfiro a um palácio magnifico, que daquele dia em diante seria seu.

Lá chegando a linda princesa não encontrou ninguém, mas tudo era sumptuoso e, quando sentiu fome, um lauto banquete estava servido. À noite, uma voz suave a chamava e, levada por ela, conheceu as delícias do Amor, nas mãos do próprio deus do amor...

Os dias passavam, e ela não se entediava, tantos eram os prazeres que tinha: acreditava estar casada com um monstro, pois Eros não lhe aparecia e, quando estavam juntos, usava sempre um capuz. Ele não podia revelar sua identidade pois sua mãe (que neste mito é Vênus) descobriria que não cumprira as suas ordens – e apesar disto, Psiquê amava o esposo, que a fizera prometer jamais retirar-lhe o capuz.

Passado um tempo, a bela jovem sentiu saudade de suas irmãs e, implorou ao marido que permitisse que elas fossem trazidas até ali. Eros resistiu e, perante a sua insistência, advertiu-a para a alma invejosa das mulheres.

As duas irmãs foram, enfim, trazidas. A princípio mostraram-se apiedadas do triste destino da sua irmã, mas vendo-a feliz, num palácio muito maior e mais luxuoso que o delas, foram sendo tomadas pela inveja. Constataram que a irmã nunca tinha visto a face do marido, então sugeriram-lhe que, à noite, quando este adormecesse, tomasse de uma lâmpada e uma faca: com uma iluminaria o seu rosto; com a outra, se fosse mesmo um monstro, o mataria, tomando posse de todas as riquezas.

Chegada a noite Psiquê, julgando que os conselhos das irmãs eram ditados por amizade, pôs em execução o plano que elas haviam lhe dito: Ao perceber que seu marido adormecera profundamente, levantou-se tomando uma lâmpada e uma faca, e dirigiu a luz ao rosto se seu esposo, com intenção de matá-lo.
Espantada e admirada com a beleza de seu marido, desastradamente deixa pingar uma gota de azeite quente sobre o ombro dele. Eros acorda – o lugar onde caiu o óleo fervente de imediato se transforma numa chaga: o Amor está ferido.

Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente: O amor não sobrevive sem confiança!

Psiquê fica sozinha e desesperada com seu erro, no imenso palácio. Precisa reconquistar o Amor perdido.

A Busca pelo Amor


Psiquê vaga pelo mundo, desesperada, até que resolve consultar-se num templo de Vênus. A deusa, já cientificada de que fora enganada, e mantendo Eros sob seus cuidados, decide impor à pobre alma uma série de tarefas, esperando que delas nunca se desincumbisse, ou que tanto se desgastasse que perdesse a beleza...

A princesa foi colocada num quarto onde tinha sido misturada uma montanha de grãos, de diversos tipos. Psiquê devia separá-los, conforme cada espécie, no espaço de uma noite. A jovem começou a trabalhar, mas mal fizera alguns montículos, adormeceu extenuada. Durante seu sono, surgem milhares de formigas que, grão a grão, os separam do monte e os reúnem consoante sua categoria. Ao acordar, Psiquê constata que a tarefa fora cumprida dentro do prazo. Vênus pede-lhe então um pouco da pura água da nascente do Rio Estige
Mas a nova tarefa logo se revela impossível: o Estige nascia duma alta montanha, tão íngreme que era impossível escalar. Levando um frasco numa das mãos, a princesa queda-se ante a escarpa que se erguia à sua frente quando uma águia surge e, tomando-lhe o frasco, voa com ele até o alto, enchendo-o. O trabalho, mais uma vez, foi realizado.

Vênus pede então que lhe trouxesse a lã de ouro que uns carneiros produziam. Após longa jornada, Psiquê encontra os ferozes animais, que não deixavam que deles se aproximassem. Uma voz surge de juncos num rio, e aconselha-a: ela deve procurar um espinheiro, junto a onde os carneiros vão beber, e nas pontas dos espículos recolher toda a lã que ficara presa. Cumprindo o ditame, Psiquê realiza a tarefa, enfurecendo a deusa.

Vênus percebeu que teria de usar de meios mais poderosos. Inventando que tinha perdido um pouco de sua beleza por cuidar do ferimento de Eros, pede a Psiquê que, no Reino dos Mortos (o País de Hades, também chamado de Campos Elísios), pedisse à sua rainha, Perséfone, um pouco de sua beleza. Conta-se, que Vênus tinha inveja da beleza da Perséfone, e este seria outro motivo para mandar a jovem ao reino de Hades. Mesmo assim a deusa estava certa de que ela não voltaria viva...



A Beleza Fatal

Psiquê, ajudada por uma voz invisível, ou, noutra versão, por uma torre, localiza a passagem para o reino dos mortos. Atravessa o rio Estige na barca de Caronte, faz calar Cérbero atirando-lhe um bolo com mel e chega à presença de Perséfone que lhe entrega uma caixa contendo sua beleza cobiçada por Afrodite. Retornando, a jovem pensa que também ela perdera um tanto de seus encantos e resolve tomar para si um pouco do conteúdo da caixa. Abriu-a, portanto, e apenas uma névoa se desprende, envolvendo-a: era a beleza da morte, e Psiquê tomba, cumprindo assim os desejos da deusa...



A deusa da Alma

Mais tarde, o próprio Eros foi salvá-la. Ambos foram para o Olimpo, onde Psiquê se tornou a deusa da Alma. Desta união nasceu a Volúpia.

Seu nome em grego (Psiquê) pode ser traduzido como alma mas também como borboleta.
Curiosamente, algumas vezes foi representada como uma bela mulher com enormes asas de borboleta ao lado de Eros com suas enormes asas de pássaro.
Para os gregos, as borboletas eram como a alma humana: no começo, enquanto vivos, somos lagartas feias, quando morremos, nos tornamos seres belos, superiores e leves.


In Wikipédia

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