Fantasmas... ou sobre o Princípio da Incerteza

Espero o sinal verde.

De um lado e do outro da rua, os rostos multiplicam-se na multidão atarefada de mais um fim de manhã em Lisboa.

Rostos desconhecidos, indiferentes na multidão. Gente que olha o tempo no vazio de espaço interior, gente que fala animadamente ao telemóvel, gente despreocupada, rostos de olhar vazio... De súbito tudo pára, o tempo de um segundo numa eternidade, a incerteza de um rosto conhecido, ouvido colado ao telemóvel, e ficamos olhos nos olhos por uma fracção de segundo. Hesito. E o sinal muda! Atravesso lentamente a passadeira inundada de gente, o ritmo cardíaco de um cavalo em plena corrida! E sempre de olhar fixo naquele rosto. Será? Não pode ser...

A hesitação matou toda a possibilidade de certeza. Bastava ter dito o seu nome quando nos cruzámos e a dúvida seria certeza. Olhei para trás já do outro lado da rua, os pensamentos atropelaram-me as emoções, ou terá sido o contrário? Não sei... Vou ficar sem saber...

Terá sido apenas um fantasma do passado que regressa para me assombrar os dias, ou foi real esta visão?

De qualquer forma, o almoço ficou arruinado, as minhas mãos tremiam sem cessar, e aquele rosto teimou em manter-se no meu pensamento durante todo o tempo. E um suspiro profundo e arfante saiu sem autorização do meu peito para tentar acalmar esta tremenda confusão … Quem estaria do outro lado da linha?...

O dia custou a passar. O pensamento galopando por cima de quaisquer certezas que ousei ter, espezinhando tudo à passagem… um fantasma, que me assombrou o dia, preenchendo cada espaço de dúvida e incerteza…